Representações, Vídeo Still | © David Guéniot, 2005
Os primeiros 10 minutos são sempre bem recebidos, terá certamente a ver com a expectativa criada em torno do momento inicial. Nos momentos seguintes levantam-se algumas questões. Muitas pessoas ficam chocadas com a crueza das acções, uma intricada e grosseira coreografia de movimentos quotidianos. Outras, sentindo-se porventura insultadas, deixam fazer notar o desconforto. Outras ainda, despertadas pelo vazio aparente das acções mínimas, esticam ligeiramente o corpo em frente para melhor ver o que se passa em cena: um ritual semelhante à acção demorada de um artesão, no conjunto dos seus gestos simples e precisos em volta de uma cadeira.
Há uma coreografia de movimentos que recusa a ideia de facilidade. A não utilização de protecções denuncia um estudo e preparação que o espectador não tem. Logo, não é o quotidiano que aqui se apresenta, mas um trabalho sobre o quotidiano. O criador parece perguntar porque haverá de ser diferente uma progressão corporal da progressão de construção de um objecto. (…)
(…) A procura de desejo e de saber o que falta (desabafos que Mário Afonso inscreve com serradura no chão), não são mais que vontades de pertencer a um outro mundo que ultrapasse o que se vê, permitindo-se a uma liberdade de interpretação. Em última análise, o que Mário Afonso propõe é o libertar de convenções, sejam elas coreográficas ou dramatúrgicas. Tudo em nome dos objectos que se querem questionados. Mesmo quando se lhes atribui uma finalidade. Como às cadeiras.
In, O Melhor Anjo, Tiago Bartolomeu Costa
Sobre o Projecto
Este trabalho desenvolveu-se em três momentos distintos:
A primeira fase surge em 2003, como parte integrante de um estudo desenvolvido por Mário Afonso na MIMaP (Mostra Informal de Materiais em Progresso), organizado pelo Fórum Dança, do qual resulta um conjunto de cinco pequenos solos sob o título O que fazer com o corpo. A segunda fase decorreu no contexto do laboratório de pesquisa e criação Lab.11, organizado pela Re.Al. Nesta segunda fase, tomando uma das premissas do Lab.11, a possibilidade de convidar alguém do interesse do coreógrafo, Mário Afonso estendeu o convite à filósofa Maria Filomena Molder para integrar o núcleo do Lab.11, do qual fizeram parte João Fiadeiro e João Queiroz no acompanhamento artístico.
Numa terceira fase, Mário Afonso deu continuidade ao processo de pesquisa em contextos informais até Abril de 2008, altura em que o solo Representações foi dado por concluído e apresentado publicamente enquanto espectáculo.
Ficha Técnica
Concepção e Interpretação Mário Afonso
Acompanhamento Artístico João Fiadeiro e o pintor João Queiroz
Convidada do coreógrafo Maria Filomena Molder
Entrevista por correspondência Rui Catalão
Produção Re.Al
Agradecimentos Negócio/ZDB, Forum Dança, O Rumo do Fumo, Frame colectivo e Teresa Dias
Produção executiva Carta Branca
Solo 40 minutos